Arte e Cultura

Premiada Escritora Que Mora Na França Ilustra Em Suas Obras

A escritora Léonora Miano estará na 15ª Feira do Livro

A escritora franco-camaronesa Léonora Miano estará na 15ª Feira do Livro de Joinville para promover seu premiado romance ‘Estação das Sombras’, editado há alguns meses pela Pallas Editora. A autora dará uma palestra sobre a obra nesta quinta, às 19h, no Teatro Juarez Machado. Também falará sobre “Quando escrever é uma necessidade e um compromisso”.

Com ‘Estação das Sombras’, Miano tornou-se a primeira autora de origem africana a vencer o Prix Femina da França (2013).  A literatura de Léonora Miano tem foco em dois temas principais, intimamente ligados à sua própria experiência: a África Subsariana e os afrodescendentes. A autora considera essencial o interesse pela realidade das populações que muitas vezes são vistas de fora, através de estereótipos. ‘A Estação da Sombra’ passa-se no coração de África, nas terras do clã Mulongo, onde durante um incêndio desaparecem misteriosamente doze homens da tribo. Uma mulher, uma das mães banidas da comunidade, empreende então um longo périplo que a conduzirá a uma atroz verdade, expondo as relações entre a África e a Europa. A obra é realista e tem como base o relatório ‘A lembrança da captura’, da Unesco (2010), que procura resgatar a memória do tráfico Transatlântico.

“Com ‘Estação das Sombras’ eu quis escrever uma história e construir uma individualidade forte em um ambiente onde se tem medo da individualidade. Eu gostaria que nós, em nossas sociedades africanas onde acreditamos no grupo, permitíssemos que as pessoas fossem livres e se realizassem como indivíduos, considerando que eles conseguiriam uma riqueza também para o grupo. Por enquanto, quando alguém tenta tomar novos caminhos, quando alguém tenta se afirmar, geralmente o grupo o esmaga. E acho que isso também é uma perda. É um desperdício não permitir que as pessoas cresçam” analisa Léonora.

O ciclo africano de publicações de Miano teve início com seu primeiro romance ‘O Interior da Noite’ (2005), inspirado em um relatório sobre a guerra na Libéria, onde as os jovens contam o que tinham que fazer durante essa longa guerra. O documento, com questões sobre as dificuldades das sociedades africanas contemporâneas, foi o seu ponto de partida. “A África é um continente povoado por pessoas muito jovens, eu decidi estudar um pouco o destino dessa juventude e seu futuro”, explica.

A obra da escritora ilustra as complexidades de identidades negras contemporâneas e oferece uma imaginação literária surpreendente para os seus leitores: a de um ‘terceiro espaço’, ligando por meio das palavras e da sua música os territórios literários dos povos negros, nos continentes africano, americano e europeu.

A África como lugar e especialmente como discurso na existência dos personagens sugere, de acordo com Léonora Miano, que a matriz-continente deve ser colocada no centro da consciência negra. Influenciada mais pela literatura das Américas negras do que pela da África, a autora parece entender o desejo do retorno à África negra em busca de identidade.

Miano também empresta sua voz para o nacionalismo negro. Ela ecoa, por exemplo, as falas radicais dos acomodados,  que colocam a África como uma ideologia de resistência ao sistema de valores dos antigos colonizadores. Além do discurso, ela expõe explicitamente as opressões sociais diárias sofridas pela população “afro-europeia” e o resultante choque de identidade entre os “indesejáveis” na França.

A autora não nega as devastações do colonialismo, mas se recusa a qualquer visão idealizada e romântica do mundo negro em sua escrita. Suas personagens são principalmente vítimas de seu semelhante (às vezes da mesma aldeia). Esses militantes do nacionalismo negro que marcam os trabalhos de Miano são vistos como impasses históricos.

A romancista propõe uma visão universal e secular da identidade negra em que as diásporas africanas seriam centrais, até mais do que o próprio continente.  Ela reivindica a parte do outro em si. Se é necessário operar uma “reorientação”, não é, sugere, a favor da África, mas de suas árvores além do Atlântico.

Segundo Léonora Miano, “há toda uma geração, a dos meus pais, por exemplo, que não sabia o que fazer com essa África que lhe fora dada e que, portanto, não sabia o que construir. Nossas sociedades são muito jovens. Não podemos realmente esperar que em quarenta anos a África consiga construir sociedades como as do Ocidente, a partir de outro ponto de partida. Evidentemente, a evolução é feita na violência, é feita com grande dificuldade, é feita em uma grande complexidade, porque para chegar lá devemos aceitar a ideia de ter sido dominado em sua própria terra, que não é fácil. Devemos também aceitar a ideia de que agora, para evoluir, temos que nos integrar em nossos elementos funcionais que vieram das pessoas que nos dominaram. E isso, essa geração não poderia fazer isso. Mas as pessoas mais jovens que são mais pacíficas poderão aceitar esses novos dados”.

O FEMINISMO DE LÉONORA MIANO

Em seus romances, Léonora Miano propões reinventar a identidade negra através da voz das mulheres dissidentes. Personagens autobiográficas, as mulheres que atravessam a obra de Miano têm diversas faces e idades, desde a menina de dez anos nas ruas de um subúrbio em algum lugar da África até a mãe em uma Paris cruel para os imigrantes perdidos. A autora dá acima de tudo voz para a mulher, cujo foco é retratar a realidade. Seu mundo é movido pelo discurso das mulheres, mesmo quando servem apenas para testemunhar o poder criminoso dos homens.

O propósito de Miano não é falar apenas de mulheres, mas abordar o universo da mulher negra. Ela explica o seu feminismo: “Tem havido muita conversa sobre o lugar das mulheres em meus romances. Mas esse nunca foi meu objetivo, escrever histórias de mulheres. Os humanos são interessantes para mim, seja qual for o gênero deles.”

Os personagens centrais da obra de Miano são párias que buscam ou encontrar uma comunidade ou se afastar dela, recusando o discurso a que estão obrigados a obedecer. As mulheres, em particular, veem o disfarce social por trás da identidade racial. A romancista pretende “restaurar seu componente negro à raça humana” escolhendo personagens de mulheres negras que ainda são estrangeiras para outros negros.

A MÚSICA DE MIANO

A partir do ponto de vista de sua obra literária, Léonora Miano escreveu um repertório de canções em francês que ela chamou de ‘Sankofa Cry’, no qual ela explora as emoções dos primeiros sub-sarianos deportados através do Tratado Transatlântico. O eixo emocional escolhido para essas canções que ela interpreta, restaura a humanidade dos deportados e inclui o ouvinte dentro de um momento particular da história humana.

A música de Léonora Miano é um exemplo da conversa cultural entre americanos negros e a África, mas desta vez a América está fertilizando a África. O lugar do jazz e a evocação de músicos negros americanos são notáveis ​​em seu trabalho.

LÉONORA MIANO

Léonora Miano nasceu em 1973 em Douala, na costa de Camarões, onde viveu a infância e a adolescência, antes de partir para a França, em 1991, para iniciar os estudos universitários. Naturalizou-se francesa em 2008. Em 2010 fundou a ONG Mahogany, dedicada a projetos sobre a diáspora.

Com mais de 10 obras literárias publicadas, Léonora já ganhou o Prêmio Goncourt com Contornos do dia que vem vindo (2006), publicado pela Pallas em 2009, e com A estação das sombras (2013), vencedor do Prix Femina e do Grand Prix do Roman Métis.

OBRAS

2013 – La saison de l’ombre (romance) – Grasset, 2013 – Prêmio Fémina 2013 e Grand Prix du Roman Métis 2013

2012 – Habiter la frontière (conferências) – L’Arche Editeur

2012 – Ecrits pour la parole (teatro) – L’Arche Editeur – Prêmio Seligmann contra o racismo

2011 – Ces âmes chagrines (romance) – Plon

2010 – Blues pour Elise (romance) – Plon

2009 – Les aubes écarlates (romance) – Plon – Troféu das artes afro-caribenhas 2010

2009 – Soulfood équatoriale (contos) – Nil – Prêmio Eugénie Brazier 2009

2008 – Tels des astres éteints (romance) – Plon

2008 – Afropean soul (contos) – Flammarion

2006 – Contours du jour qui vient (romance) – Plon – Prêmio Goncourt 2006, Prix de l’Excellence camerounaise 2007

2005 – L’intérieur de la nuit (romance) – Plon – Prêmio Louis Guilloux 2006, Prêmio René Fallet 2006, Prêmio Montalembert 2006, Prêmio Grinzane Cavour 2008.

Assessoria Feira do Livro: Santa Cultura Comunicação Criativa

Assessoria Léonora: GEO COMUNICAÇÃO

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Foto Divulgação

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Rosilene Bejarano

Rosilene Bejarano,nascida em Corumba Ms Digital Influencer, blogueira revista eletrônica Coisas Do Sul, assino para as revistas Egonoticias de Balneário Camboriú, Top Society de Lages, Lithoral News de Itajaí. Palestrante com o tema (Estrutura familiar e mulheres na politica) recebi o titulo de Embaixadora da Paz em 2018, atualmente resido em Joinville Santa Catarina, cursando marketing digital, formada em Hotelaria e excelência em atendimento, sou a Vice presidente da Abramecom (Associação Brasileira de Colunistas Sociais e de Mídia Eletrônica) Recebi o premio internacional de imprensa empreendedora Dr Rey 2017. Premio destaque de Mídia Eletrônica SC da Revista Lithoral News, Premio destaque imprensa revelação SC.

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