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Por que 'A sutil arte de ligar o foda-se' é o livro mais vendido no Brasil?


Autoajuda que não quer ser vista como autoajuda, título que intriga e linguagem nua e crua são armas do autor Mark Manson. Professor diz que instabilidade do mundo atual impulsiona o gênero. Livro é o mais vendido do Brasil.
Divulgação/Intrínseca
Um livro que diz na sua cara que talvez você não seja tão especial quanto pensa. E que a vida é mais cheia de problemas do que de soluções. E, por fim, que não adianta se esforçar: a felicidade plena não existe. Este é o mundo que o escritor Mark Manson apresenta em seu “A sutil arte de ligar o foda-se”.
Mesmo portando verdades tão indigestas e desanimadoras, foi o livro mais vendido no Brasil no primeiro semestre deste ano.
A obra do autor americano de 34 anos teve 240 mil exemplares vendidos no país desde o início de 2018. Não é apenas em solo brasileiro que o livro de nome curioso faz sucesso: há 86 semanas, “The Subtle Art of Not Giving a F*ck” (título original) está na lista dos livros mais vendidos da categoria “Conselhos, Como fazer e Diversos” do jornal americano “The New York Times”.
É justamente o título, direto ao ponto, o responsável por aguçar a curiosidade de quem cruza com sua capa vermelha de letras garrafais. Um nome diferente, com o apelo de um dos palavrões mais queridos e evocados, é capaz de atrair até os mais céticos.
“Julguei pelo título, pois achei que seria um daqueles livros ruins com títulos bons”, conta o publicitário Danilo Mendonça, de 27 anos. Mesmo com essa espécie de presságio, não resistiu e comprou uma edição.
A editora Christiane Ruiz, da Intrínseca, defende que a “irreverência” é um aspecto essencial para o êxito de uma obra com o público, porque passa “a sensação de que ali tem algo diferente”.
Se o título traz o componente que fisga o leitor, a linguagem é uma das responsáveis por fazer que ele siga até o fim. Neste livro, Manson é direto, honesto e cruel, com recursos nada rebuscados da linguagem. E esta crueldade atrai.
“Parece que é um amigo que está conversando com você. Ele fala algumas coisas que são um pouco duras, mas te colocam para pensar”, explica a estudante de economia Luciana Lino, de 24 anos, fã da obra.
Metrô, ônibus, Instagram, Twitter. Você já deve ter passado por alguém com um exemplar na mão ou ostentando sua edição em posts nas redes sociais. Alguns leitores se convertem a semi apóstolos que levam com gosto a palavra de Manson por onde andam. A cantora Marília Mendonça e a atriz Juliana Paes reforçam esse time.
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Parte do sucesso de vendas vem justamente dessa propaganda pulverizada e diária, que alimenta a curiosidade pelo livro que todos estão lendo.
Mas do que se trata exatamente “A sutil arte de ligar o foda-se”?
O livro se divide em nove capítulos que, em resumo, falam da pressão negativa que a perseguição do sucesso e da felicidade exercem sobre nós.
Sua mensagem se parece, em certa medida, com os textões e gritos de socorro contra a perfeição ostentada nas redes sociais que pipocam sempre nas timelines.
Se você nunca se deparou com uma reclamação sobre como as pessoas se sentem mal diante das lindas fotos de viagens, corpos que parecem de mentira e noites em restaurantes maravilhosos, você está usando a internet errado.
A resposta apresentada pelo livro para isso é ligar o foda-se e aceitar que você não será feliz o tempo todo.
Autoajuda?
Apesar de apontar caminhos para uma vida mais leve, autor e leitores refutam ou relativizam a classificação de autoajuda. Manson diz que ele surgiu justamente para se contrapor ao que chama de “masturbação das good vibes”.
Quem lê jura de pés juntos que não se trata de mais um dos populares livros motivacionais que todo mundo ama odiar. Muitos leitores o classificam como um “necessário tapa na cara”.
De toda forma, nas listas de mais vendidos, seja do “New York Times” ou do site brasileiro especializado Publishnews, o livro está lá na categoria de autoajuda.
É justamente a busca por respostas, nem sempre sutis, que garante o topo da procura por obras desse tipo no Brasil.
Incerteza é a razão da popularidade, diz o professor do departamento de Psicologia Social da PUC-SP Hélio Deliberador. Para ele, a autoajuda é popular pois proporciona respostas rápidas e simples para problemas complexos e incômodos.
“Isso faz com que haja sempre em voga algo que preencha essa lacuna. E aí vem toda uma bibliografia, com linguagem acessível, que promete resolver esses problemas”, explica Deliberador.
Além disso, para ele, a instabilidade que vivemos no País e as incertezas causadas por ela, seja sobre qual candidato irá assumir a presidência ou se o dinheiro vai durar até o fim do mês, ajudam a desestabilizar as pessoas.
Lidar com ansiedade, tristeza, medo e angústia requer trabalho profissional. E o professor vê com receio a procura justamente por autoajuda para suavizar questões tão pesadas. Compara seu efeito a analgésicos: pode funcionar para alívio momentâneo, mas é preciso tratar mais fundo para chegar à origem do problema.
Apesar disso, o psicólogo não vê esses livros como nocivos. “Toda forma de leitura exercita o sistema nervoso, além de movimentar o mercado editorial”, defende.
Esse segmento foi o quarto mais popular no País, segundo a pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômica) e da SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livro). Fica atrás apenas das categorias: didático, religião e literatura adulta.
“O Poder do Hábito”, do jornalista Charles Duhigg, e “Rápido e Devagar”, de Daniel Kahneman, também estiveram entre os mais vendidos nos últimos anos.
O dominador da arte de ligar o foda-se
Mark Manson começou a escrever aos 25 anos. Não livros, mas posts em blogs. Na época, os blogs pessoais bombavam e ele, sem talento para ter um emprego convencional (em suas próprias palavras), buscou nesta novidade da internet sua fonte de renda e razão de ser.
Começou aconselhando pessoas sobre relacionamentos: melhores lugares para o primeiro encontro, por que os parceiros perdem interesse após os primeiros meses e outras questões do universo dos flertes e paixões. Foi destes conselhos que lançou seu primeiro livro como cobaia para seu destino: se desse certo, se dedicaria a escrever profissionalmente.
Nove anos depois, Manson se tornou uma espécie de guru do “foda-se” e do autoconhecimento. Em seu site, ele oferece cursos sobre como construir uma vida melhor, superar a ansiedade, se relacionar, escrita e blog e plano de escape – o curso para viagem a longo prazo.
Apesar de refutar sempre que possível a autoajuda tradicional, é no caminho aberto por ela que o escritor tem trilhado sua caminhada de best-seller mundial.
Mark Manson
Divulgação / Página oficial do autor no Facebook
Fonte: http://g1.globo.com/dynamo/pop-arte/rss2.xml

Marcos Morrone

Nascido em São Paulo Capital. CEO do Grupo Morrone Comunicações Ltda.

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